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HISTÓRIA

A Assembleia Geral que criou a Associação Gaúcha de Escritores realizou-se no dia 18 de novembro de 1981 na Sala Álvaro Moreira do Centro Municipal de Cultura de Porto Alegre e o anfitrião foi o atual Secretário Estadual da Cultura, o escritor Luiz Antonio de Assis Brasil. Estiveram presentes inúmeros e representativos escritores, alguns já falecidos, como Carlos Carvalho, Moacyr Scliar, Cyro Martins, Laury Maciel. Por decisão da própria assembleia, outros escritores que assinaram a ata de fundação num determinado período posterior também foram considerados sócios fundadores. Foi assim que Mário Quintana tornou-se nosso sócio fundador.

A Ata original da AGES não foi redigida e nem transcrita num livro tradicional de atas. Foi datilografada numa máquina elétrica IBM, em folha avulsa. Ao longo destes mais de 30 anos, ela se transformou numa espécie de “texto sagrado”, muitas vezes dada como perdida e sempre resgatada. Agora, por iniciativa do atual presidente Caio Riter, ela foi digitalizada e pode ser lida no site da associação.

Sob a inspiração, a liderança e a incansável dedicação de Carlos Carvalho, a Comissão Provisória foi presidida por Dilan Camargo, juntamente com Humberto Zanatta e Jaime Cimenti, que trabalharam na elaboração do projeto dos estatutos, na convocação da assembleia de fundação e no registro da entidade no Cartório de Registros Especiais. Um dos documentos legais que serviram de referência para a elaboração dos nossos estatutos foram os Estatutos do Sindicato dos Escritores do Rio de Janeiro. Naquele momento, julgou-se que criar uma associação e não um sindicato daria maior abrangência e representatividade social aos escritores gaúchos.

A AGES surgia assim, no momento ascendente da luta da sociedade brasileira pela redemocratização das instituições políticas. Os escritores gaúchos, a exemplo de tantos, como Érico Veríssimo, e em todo o país, somavam-se ao movimento dos vários segmentos políticos, operários, associativos, estudantis, culturais, e davam a sua contribuição para a reconstrução democrática da sociedade civil brasileira. Nesse contexto histórico, a associação participou do Comício das Diretas-já em Porto Alegre.

Durante esses anos, a AGES promoveu e realizou encontros de escritores, seminários, eventos literários e culturais que precederam e inspiraram muitos dos que hoje enriquecem e valorizam a agenda literária do Rio Grande do Sul. A associação esteve presente também no célebre Congresso Nacional de Escritores, realizado em São Paulo, com a presença do recém empossado Presidente Sarney. O evento fazia parte de uma intensa mobilização nacional de artistas e intelectuais pela criação do Ministério da Cultura. Dele participaram, representando a AGES, os escritores Antonio Hohefeldt, Dilan Camargo, Luis Antonio de Assis Brasil, Charles Kiefer, Dorothy Camargo Gallo, Hugo Ramirez.

Entre os eventos que marcaram expressivamente a história da AGES estão os Encontros Estaduais de Escritores realizados na cidade de Garibaldi em várias edições, com ampla participação dos estudantes e da comunidade local.

A AGES também participou em congressos de escritores e seminários internacionais na Argentina, Uruguai e Paraguai. Em nome da AGES participamos também do reconhecido Festival Latino-americano de Poesia de Rosário, na Argentina. Por duas vezes, Dilan Camargo, então na presidência, e mais os nossos poetas Armindo Trevisan, Luiz de Miranda e os escritores Tabajara Ruas e Henrique Schneider participaram do congresso. Numa dessas edições estava presente o reconhecido poeta argentino Juan Gélman, exilado pela ditadura militar do seu país, e que já carregava a dor de ter um filho entre os desaparecidos políticos da Argentina.

Em Assunção do Paraguai, Rossyr Berny e Dilan Camargo participaram do I Encontro Latino-americano de Escritores, também representando a AGES. Vários escritores de outros estados brasileiros também se fizeram presentes. Numa noite, os participantes foram recepcionados na residência oficial da Presidência da República, ao som de harpas paraguaias.  Nessa ocasião, o poeta Afonso Romano de Sant´Anna discursou em nome dos escritores brasileiros.

No âmbito da representação dos escritores, a AGES realizou campanhas em defesa do Direito Autoral com distribuição de cartazes e de marcadores de livro em escolas e universidades contra a reprodução reprográfica de livros. A sua atuação também foi pioneira e decisiva para promover e consolidar a profissionalização das atividades de escritor, principalmente através da remuneração do trabalho intelectual em palestras, oficinas, e demais eventos. Esta realidade é reconhecida e elogiada por escritores de outros estados brasileiros. A associação também conquistou representação junto ao Conselho Estadual de Cultura ao lado de outras entidades da área cultural e artística. Criou e mantém um dos prêmios literários mais prestigiados do Estado, o Prêmio Livro do Ano.

Uma de suas características singulares é o fato de ser uma entidade sem sede física, tendo apenas uma sede virtual. Em uma única ocasião a AGES contou com uma sede física. Antes, nos seus primeiros anos, tinha apenas o endereço de uma caixa postal, por mais inacreditável que seja. A sua sede era na Casa de Cultura Mário Quintana, concedida durante a gestão, de novo, de Luiz Antonio de Assis Brasil, quando ele era o Sub-Secretário de Cultura do Estado. Tínhamos uma sala com uma pequena estrutura administrativa atendida diariamente pelo poeta Rossyr Berny, que por lá marcou época. Mesmo assim, a associação continuou a ser uma entidade presente, participativa e reconhecida em todos os níveis da representação dos escritores, como ainda é até hoje.

Entre os eventos de confraternização realizados pela associação, um deles foi uma memorável partida de futebol de salão entre a seleção dos escritores e a dos livreiros e editores, realizada no Ginásio da Brigada Militar, tendo como árbitro Renato Marsiglia. Entre os escritores, destacaram-se pela técnica, entrega, velocidade e gols, Charles Kieffer e Tau Golin. A principal figura da partida foi o nosso goleiro Sérgio Faraco, que jogou sentado num banquinho de galpão, coberto por um pelego, e com um relho na mão direita. Quando os jogadores adversários se aproximavam da nossa goleira, o Faraco saía do gol brandindo e relho para fazer a defesa, o que garantiu à torcida momentos de altíssimas emoções. É claro que, por essa performance gauchesca do nosso número um, tomamos alguns gols injustos.

O time adversário guardava uma surpresa de última hora. Na metade do segundo tempo, colocou na quadra a exuberante jogadora de futebol feminino Duda. Quando ela dominava a bola e avançava em direção ao nosso gol, o nosso goleiro abandonava a meta e cometia “faltas desleais” abraçando-se ostensivamente na atacante do time adversário. Assim, tomamos alguns gols de cobranças de falta e só não vencemos o jogo porque os nossos adversários se valeram desse fator surpresa, o que levou o nosso goleiro a perder-se em quadra numa irresistível “indisciplina tática”.

Uma das contribuições fundamentais da AGES para a consolidação de uma visão de conjunto dos escritores e da literatura do Rio Grande do Sul foi a organização e publicação de três antologias literárias nos gêneros Poesia (Org. Dilan Camargo ), Conto e Crônica, lançadas durante a 43ª Feira do Livro de Porto Alegre, no ano de 1997. Esta publicação foi uma promoção conjunta com a Secretaria Municipal da Cultura de Porto Alegre e com a Câmara Rio-Grandense do Livro.

São mais de 30 anos de valorização dos escritores, do livro e dos leitores. Em todos estes anos, a AGES manteve-se atuante e presente na vida literária do nosso Estado. Sempre será importante relembrar a sua já longa trajetória e reafirmar a sua continuidade em novos contextos sociais, culturais e históricos do Rio Grande do Sul e do Brasil.


Por Dilan Camargo – sócio-fundador da AGES